Problema de consciência


*Bruno Marcos Radunz

Muito tem se falado nos últimos tempos sobre aspectos vinculados a moral e ética, sobre o que é certo ou errado ou sobre aqueles fatos corriqueiros de desvios, de mal versação de recursos públicos, onde acusamos indistintamente nossos representantes políticos, difamamos, mandamos e-mails para nossa rede de contatos, criticamos, menosprezamos e achacamos pessoas que no fundo também são seres humanos como nós, seres falíveis.
Como posso falar mal de um político sem ao menos tê-lo conhecido pessoalmente, sem conhecer sua história, sua família e sem vivenciar os fatos? Sem lembrar que ele também tem filhos, pais, família e que certamente se sentiriam muito tristes, se fossem injustiçados.
A vida de um político parece, no rótulo da sociedade, uma forma de se enriquecer facilmente e de maneira ilícita, aos olhos da lei, da busca pessoal incansável, em busca da fama, do egocentrismo, ou de, muitas vezes, do teocentrismo.
Não estou querendo defender este ou aquele. Tenho vários amigos políticos. Poderia ser suspeito em escrever este texto. O que eu quero é alertar para o fato de que não somos as pessoas mais indicadas para criticá-los.
Pois vamos raciocinar!
Com a famosa Lei de Gerson, procuramos tirar vantagens em tudo, e achamos tudo perfeitamente normal. Nossos deslizes são menores sempre.
No trânsito, estacionamos nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas; subornamos ou tentamos subornar quando somos pegos cometendo infração.
Falamos ao celular quando dirigimos, paramos em filas duplas e às vezes triplas em frente às escolas, quando buscamos nossos filhos.
Vamos a alguma festa, em algum jantar e após consumir bebida alcoólica, insistimos em dirigir de volta, colocando em risco nossas vidas e a de outras pessoas. Também temos o (péssimo) hábito de estacionar na vaga para deficientes.
No comércio, furamos filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas. Fizemos-nos de velhos ou mais velhos para nos aproveitar da situação.
Nos negócios, registramos imóveis no cartório num valor abaixo do comprado, muitas vezes irrisório, só para pagar menos impostos. Compramos recibos para abater do imposto de renda para também pagar menos impostos.
No casamento, fizemos juras de amor eterno e nossos olhos se perdem a qualquer momento quando passa a nossa frente uma bela pessoa. Traímos, mesmo que em pensamento.
No emprego, pegamos atestado médico sem estarmos doentes, só para faltar ao trabalho e muitas vezes somos flagrados fazendo comprar quando deveríamos estar em repouso.
Em casa compramos produtos piratas e demos um “bom” exemplo para nossos filhos.
Em viagem, quando voltamos do exterior, nunca dizemos a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que trazemos na bagagem.
Quando vamos ao Paraguai, sempre arrumamos alguém para levarmos juntos para aumentar a nossa cota de compras.
Tudo que vos lhes relatei soa familiar?
Como podemos julgar o próximo, que está exposto à mídia, perto das atrocidades que cometemos? Poderiam dizer que esses pequenos desvios são fichinha perto dos grandes. Talvez esteja aí a grande diferença: eles, os políticos estão expostos à mídia e todos os seus atos são amplamente divulgados. E quanto a nós, cidadãos normais e os nossos pequenos “deslizes” ficam conosco ou para com poucas pessoas.
É uma questão de consciência.
Então façamos mais, corrigimo-nos mais e critiquemos menos.
Pensem nisso!
*Bruno Marcos Radunz é administrador de empresas, palestrante e escritor.
site: www.brunoradunz.com.br