INDIGNAÇÂO TUPINIQUIM

Indignação tupiniquim

*Bruno Marcos Radunz

Minha iniciação literária teve como principal motivação escrever sobre as coisas boas, as coisas simples, o cotidiano, a família, o comportamento, a ética, a moral, os bons costumes, a força interior, o ciclo da vida das pessoas, enfim, aspectos importantes e positivos na formação de minha personalidade como cidadão e como agora me chamam, escritor.
Hoje vou mudar um pouco a tônica da minha “conversa”.
Para se escrever um bom texto, existe a necessidade de se ler muitos e bons livros. Para se formatar um texto apenas, levamos algumas horas, talvez. Mas para se formatar um livro são noites e noites adentro para tentar passar as outras pessoas o fruto do nosso conhecimento, daquilo que aprendemos lendo outros livros, conhecendo outros autores.
Depois de todo o esforço, começa talvez a maior batalha da vida de um escritor. Achar alguém que acredite no seu trabalho.
Para que alguém acredite em você e resolva publicar seus escritos, é uma longa caminhada em que muitos desistem no meio da jornada pelos empecilhos e principalmente pelas dificuldades econômicas e da forma que as editoras agem com os escritores, cabendo a eles, os autores das obras a menor parcela, isso quando não é obrigado a comprar da editora certa quantia de seus próprios livros.
Meus colegas escritores vão entender perfeitamente o que estou tentando dizer!
E o governo, numa tentativa de incentivar hábitos tão importantes na vida das pessoas, que é hábito da leitura, da cultura, das artes, criou a Lei Rouanet, que permite que Empresas repassem valores a serem recolhidos ao governo para a publicação de obras e têm em contrapartida um abatimento no seu imposto de renda devido.
Queridos leitores, querido escritores!
Eis a minha indignação! Depois de muitos anos, um político vem à cena, dias atrás, em um discurso, afirmar que alguma coisa deve estar errada com relação a aplicação deste recurso disponível para as artes em geral. Setenta por cento dos recursos são utilizados por apenas duas cidades. Sim, duas cidades.
E nós, escritores, preparamos uma papelada sem fim, uma burocracia sem tamanho, exigências mil e numa empreitada que dificilmente conseguimos obter êxito. Conta-se nos dedos os escritores da região que conseguiram algum recurso.
E a minha indignação aumenta quando leio em jornal que uma auditoria preliminar da Controladoria Geral da União identificou um desvio de R$ 129 mil em um convênio fechado pela Fundação José Sarney, onde foram apontadas irregularidades de todas as espécies, como contratações irregulares, falta de comprovação de serviços e utilização de notas frias.
A fundação José Sarney recebia, via Lei Rouanet, pasmem, R$ 80 mil por mês, durante todo o ano de 2004, totalizando naquele ano R$ 960 mil, para manter seu acervo num casarão no Maranhão.
E José Sarney vem a público exigir respeito para com ele porque ele foi um Presidente da República. Desculpe-me José Sarney, pelas pessoas o criticarem, porque o Senhor sempre foi um homem probo, bondoso, nunca esteve envolvido com maracutaias, e eu ouso criticá-lo em meu artigo.
Perdoe-me, porque eu não consigo obter uma simples verba de R$ 5 mil para publicar mais um livro, porque eu não tenho os amigos que o Senhor tem.
Perdoe-me por todos os escritores, atores, músicos que desistiram de suas carreiras porque o dinheiro que era para ser canalizado a eles, foi destinado para manter o seu acervo em São Luiz.
Perdoe-me, José Sarney por duvidar da sua inocência!
Perdoe-me por ficar sabendo que a sua Fundação recebeu R$ 1,34 milhão da Petrobrás entre o fim de 2005 e setembro de 2008. Acho que esses controladores estão ficando loucos, coitados, o Senhor nada deve.
E aos meus amigos leitores, desculpem-me pelo desabafo, ele vem do fundo da minha alma, mas que me dá ainda mais forças para continuar escrevendo e com isso tentando ajudar pessoas, e não cuidar de acervos.
Pensem nisso!

*Bruno Marcos Radunz é administrador de empresas, palestrante e escritor.
brunoradunz@ibest.com.br