*Bruno Marcos Radunz
Caminhando pelas ruas de Iraí, pude visualizar algumas paisagens bucólicas, formadas pelas velhas construções, centenárias árvores e casarões antigos; também um número acentuado de pessoas com mais idade, que certamente buscam na calmaria do lugar, um local ideal para descansar e tratar da saúde. Também me chamou a atenção uma loja, com a denominação Casa das Pedras. Sempre tive um apreço muito grande por pedras oriundas da natureza e lá achei o que seria o lugar ideal para conhecer novos exemplares. Ao entrar no estabelecimento, deparei-me com um sem fim número de pedras expostas, umas transformadas em porta-canetas, relógios, porta-cuias e os mais diversos destinos. Enfim, achei muito bonita a aparente simples loja. Ao conversar com a atendente, tive uma ótima receptividade e comecei a relatar quem eu era e de onde vinha. Portando uma enorme cuia, eis que surge por detrás de uma porta uma figura esguia, já um pouco desgastada pelo tempo, mas de uma perspicácia e inteligência muito acentuada. Era o Senhor Alziro Bortoluzzi, proprietário da loja. Conversamos por alguns instantes e logo percebi nele uma nova história para meus livros e relatos. Identificamo-nos rapidamente e ele começou a contar sua história. Talvez percebesse em mim traços de confiança e com isso me convidou para conhecer as outras salas da loja, que abrigam um verdadeiro museu de todas as espécies de pedras, quer sejam elas topázios, ametistas, cetrinus, calcitas, gipsitas e anedriery. Foi como descobrir um mundo diferente, ao qual nunca havia visto. Enormes salas guardavam um verdadeiro tesouro, protegidos pelo olhar de bandeirante do Seu Alziro. Descobri que ele havia nascido em 14 de maio de 1933, na vizinha cidade de Frederico Westphalen e em 1953 veio a residir em Iraí, onde inicialmente trabalhou como garçom no Hotel Planalto. Depois veio a trabalhar numa joalheria, que acabou por despertar em si o interesse por pedras preciosas e semipreciosas, apesar do pouco conhecimento que tinha sobre o assunto. Resolveu arriscar e iniciou a comercialização de pedras, extraídas das redondezas. Isso pelos idos de 1964. O negócio proliferou e ele acabou montando a sua própria loja onde passou a comercializar o fruto do seu trabalho. As vendas, com a época áurea de Iraí, se estenderam para o mundo todo, com viajantes, turistas e compradores vindo dos mais longínquos lugares, como Japão, Estados Unidos, França e outros países. Chegou a exportar somente num ano mais de 400 mil dólares em pedras., fato que propiciou ao Seu Alziro ter matéria publicada na então Revista O Cruzeiro, edição nacional de 19/08/73, sendo ele destaque numa reportagem que relatou o fato das pedras terem rendido verdadeiras fortunas para muitos habitantes da região. Garbosamente ele me mostrou a reportagem, onde ele foi citado por diversas vezes e tem sua foto estampada trabalhando no ateliê. Percebi que aquela edição da revista é guardada como um verdadeiro troféu, verificado pelo bom estado da mesma. Possui em seu acervo uma pedra de calcita, de quase 40 kg , se constituindo numa pedra muito rara, na beleza, na formação e no tamanho. Também é detentor de uma pedra chamada Flor de Ametista, extremamente rara, “ad valoren”, que os garimpeiros levaram quase 90 dias para extraí-la. Impressionou-me o enorme cofre, daqueles que só vemos em bancos guardando mais uma boa quantidade de pedras. Perguntei a ele se seus filhos vão dar seqüencia naquele trabalho de cuidar da coleção de pedras e ele respondeu que esperava que sim, que também se interessem por esta que é e que se transformou numa grande paixão da sua vida. Também fiquei sabendo que Alziro Bortoluzzi havia sido um forte articulador político nas épocas áureas de Iraí, participando profundamente na organização de partido político. Não teve nenhum cargo de maior importância, mas teve importância sim na articulação política, que hoje se percebe, no estado em que se encontra a cidade, que aquelas lideranças políticas que existiam na época, como Antonio Bresolin, José Amaral de Souza (que chegou até governador) e Fernando Gonçalves estão fazendo falta para Iraí. Iraí que teve no Cassino um dos pontos de referência no Estado, sendo ponto de encontro do público e destino de milhares de turistas, vindo das mais diversas partes do país e do estrangeiro. Também relata Alziro que foi amigo íntimo de Leonel de Moura Brizola, para o qual ajudava a organizar bailes no Salão do Gatibone, que eram freqüentados constantemente pelo governador e uma das figuras mais representativas da história do Rio Grande e do Brasil. Perguntei a ele qual o motivo que Iraí não progredia, não se desenvolvia, apesar de todos os recursos naturais disponíveis para ser explorado pelos empresários atraindo turistas e com isso arrecadar impostos e gerar empregos para o município e ele me respondeu que era uma questão da cultura de vida, da formação, além da vontade política que desperdiçam com isso uma boa oportunidade para se ganhar dinheiro. Na volta ao hotel, completei a conversa com o gerente Deolindo, profundo conhecedor do local, o qual me relatou mais alguns fatos pitorescos da região, prometendo a ele que voltaria com mais tempo para conhecer um pouco mais desse valoroso espaço geográfico do Rio Grande do Sul e quem sabe, rever novamente o bandeirante do Sul, Sr. Alziro Bortoluzzi, ao qual tive a oportunidade e o privilégio de conhecer e conversar. Assim termino este relato, direto do Rio Grande do Sul, com mais um dos seus personagens lendários e formadores da rica história desta parte do Brasil.
*Bruno Marcos Radunz é administrador de empresas, palestrante e escritor.
e-mail: brunoradunz@ibest.com.br
site: www.brunoradunz.com.br